segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ponto para a inclusão - "Está de parabéns a Justiça de Votorantim (SP) pela sentença dura e sensível que colocou as autoridades municipais e estaduais frente a frente com sua responsabilidade."


Ponto para a inclusão


"Notícia publicada na edição de 27/10/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h."



Quando a escola não está preparada, o que deveria ser inclusão pode transformar-se em sofrimento adicional para a criança e o adolescente.
A educação inclusiva teve uma vitória na semana passada, quando a juíza da Vara da Infância e da Juventude de Votorantim - (SP), Karla Peregrino Sotilo, em julgamento de ação civil pública ajuizada em agosto do ano passado pelo Ministério Público (MP), condenou o governo municipal e a Fazenda Pública Estadual a contratar cuidadores e leitores de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para atender crianças e adolescentes com deficiências físicas e intelectuais, matriculadas em escolas públicas do Estado e do município.

O MP ajuizou a ação após pais de crianças e adolescentes com deficiências denunciarem que seus filhos não tinham acesso a educação com cuidados especiais. A Prefeitura e a Secretaria de Estado da Educação negam que existam estudantes sem o atendimento especializado necessário, mas a Justiça não pensa assim. Em sua sentença, a juíza Karla pondera que os responsáveis pelo ensino municipal e estadual já iniciaram as providências para a contratação de professor intérprete de libras e cuidadores. "Contudo", observa, "tais procedimentos ainda não foram finalizados. O ensino público não conta com cuidadores e as escolas onde há profissional de libras ainda sofrem com os revezamentos, uma vez que o número contratado não é suficiente para atender a demanda."

Trata-se de sentença de primeira instância e, portanto, passível de recurso. Mesmo assim, constitui-se num marco da afirmação dos direitos das pessoas com deficiência, com potencial jurídico para prosperar nas instâncias superiores e tornar-se um exemplo para outros municípios, já que as dificuldades apontadas pelo MP não são uma exclusividade de Votorantim. Crianças com deficiências têm direito a educação especial, que deve ocorrer preferencialmente em estabelecimentos regulares de ensino. Mas não basta matriculá-las na escola para garantir que serão incluídas. É preciso que as escolas estejam preparadas para acolher a diversidade dos alunos e integrá-los num projeto verdadeiramente inclusivo. Quando a escola não está preparada, o que deveria ser inclusão pode transformar-se em sofrimento adicional para a criança ou adolescente com dificuldades físicas ou mentais.
Em 2010, dos 2,5 milhões de brasileiros com deficiência ou transtorno global de desenvolvimento, na faixa dos 4 aos 17 anos, apenas 37% estavam matriculados em escolas regulares públicas ou particulares, segundo dados do IBGE cruzados com o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Os dados não informam, porém, do universo dos matriculados, quantos recebem efetivamente educação inclusiva.

A pressão da sociedade, por meio do Ministério Público, pode apressar uma solução que, a depender do passo de tartaruga das autoridades, talvez não fosse estendida a todos nem mesmo dentro de 10 ou 20 anos. Está de parabéns a Justiça de Votorantim pela sentença dura e sensível que colocou as autoridades municipais e estaduais frente a frente com sua responsabilidade. Há casos que não podem esperar pela boa vontade dos homens públicos. E este, certamente, é um deles.

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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"O que é terapia comportamental" Texto de Vinícius Henrique Araujo Carvalho - Professor e estudante de Psicologia da UFG


O QUE É TERAPIA COMPORTAMENTAL?


Certo dia, uma pessoa mui querida pediu-me para postar algum esclarecimento em torno da Terapia Comportamental (TC) para que o pessoal do grupo pudesse se inteirar melhor. Bom, fazer uma síntese da TC não é algo fácil, pois é muito ampla. Mas vamos tentar. A primeira coisa que se precisa saber é que a TC (inclusive a ABBA que tb é TC) nasceu de uma ciência muito bem estruturada, a Análise do Comportamento (AC), construída por B. F. Skinner. 

A AC é uma ciência naturalista que compreende que os eventos ou fenômenos no mundo são sempre naturais e não necessitam de nenhuma explicação mirabolante. Skinner era adepto do darwinismo e, como este, acreditava na interferência do ambiente sobre os seres vivos. Darwin acreditava que as espécies evoluíam através da seleção natural, isto é, a partir de pressões ambientais, certas características dos organismos eram selecionadas enquanto outros eram descartadas.

A partir de certos princípios da seleção natural, em seus estudos laboratoriais, Skinner compreendeu que o indivíduo aprende através de uma simples lei: a lei da consequência. Para ele, é importante compreender que nossos comportamentos modificam o mundo e que as mudanças no mundo modificam-nos. Trata-se de um princípio simples, o de que certas consequências mantêm certos comportamentos que estão em sua função.

Exemplo simples. Uma criança de 3 anos entra em um supermercado com os pais. Quando ela passa pela sessão de brinquedos, começa a pedir esse e aquele brinquedo. Os pais dizem “não, não, não”. A criança insiste, pede, fica triste e os pais mantêm a posição. De repente, a criança começa a chorar e a gritar, o famoso “dar birra”. Os pais, por sua vez, começam a se aproximar da criança e dizem coisas do tipo “não chora não, filho!” com voz suave e branda; em seguida, pegam no colo, balançam e levam a criança para perto de uma prateleira e dizem: “pode pegar o brinquedo”. 

A partir dessa simples situação podemos ilustrar o que se deve compreender com “certas consequências manterem certos comportamentos”. Vejamos que a criança começa a pedir algo e os pais não dão. A criança insiste, pede, fica triste, mas não obtém. Dentro desse ponto da narrativa, precisamos compreender que “pedir”, “insistir”, “ficar triste” são variações crescentes de um comportamento não correspondido – chamamos variabilidade comportamental. Quando a criança começa então a “chorar”, “gritar”, “dar birra” os pais dão-lhe carinho e brinquedo. Não é difícil presumir que o comportamento de “chorar”, “gritar” e “dar birra” foi fortalecido pelos pais que deram o que a criança pedia exatamente no momento em que ela “deu birra”. Por consequência, será muito mais provável que ela dê birra novamente em uma outra situação, já que houve o acréscimo de algo quando ela deu birra. Esse princípio, para os analistas do comportamento, chama-se princípio do reforçamento (que eu chamei de fortalecimento) e ele não é nada mais, nada menos, do que uma motivação.

Assim, a partir desse princípio simples, ocorrem, desde cedo, na vida dos indivíduos, uma história de reforçamento e também não-reforçamento. O comportamento, então, é selecionado (lembra do Darwin?) por suas consequências. Para o Skinner, são três as motivações do comportamento: a nossa história genética, a história de reforçamento e não reforçamento e a nossa exposição a uma dada cultura. Dentro disso, aprendemos a ser quem somos, indivíduos únicos que agem sobre o mundo obtendo, de maneira natural, as consequências aos nossos comportamentos, o que nos leva ou não a mantermo-nos neles. 

Vale lembrar que para a Análise do Comportamento, comportamento não é só o que podemos ver o indivíduo fazer. Comportamento é tudo que nasce de uma relação entre um indivíduo e o seu ambiente. Uma tristeza é um comportamento. Uma alegria também. Um pensamento também é um comportamento, assim como falar, escrever, pular, cantar etc. Ambiente, por sua vez, não é a temperatura, a limpeza ou arranjo ambiental (embora isso também possa ser). Não! Ambiente é tudo o que interage com o individuo. Por exemplo, neste momento em que você lê este texto, o texto está sendo ambiente para muitos comportamento seus: o de ficar olhando para a tela do seu computador, o de rolar o dedo no mouse, o de pensar sobre o texto etc. Logo, o que estou tentando dizer é que o texto mantêm o seu comportamento de “olhar”, “rolar” e “pensar”, portanto ele, o texto, é ambiente para você.

A TC, então, trabalha com esses princípios. Agora, isso não tem nada a ver com a visão estreita que, por exemplo, a Pedagogia fez da Análise do Comportamento, pondo estrelinhas nas testas dos alunos, ou dando balinha etc. Você deve estar se perguntando o que nós fazemos quando estamos de frente com um cliente em terapia. Bom, nós lhes somos um ambiente natural de reforçamento e não reforçamento de comportamentos que possam solucionar os problemas que o trouxeram à clinica psicológica. 

No caso de crianças com os chamados “transtornos invasivos”, Asperger, por exemplo, o que nós vamos fazer é organizar da melhor forma possível situações (que nós chamamos “contengências”) que possam estabelecer uma boa relação de aprendizagem com o cliente. Se o indivíduo com Asperger tem dificuldades para falar, por ex., vamos organizar, dentro dos princípios de aprendizagem trazidos pela AC, situações que o possam conduzir a falar e a interagir verbalmente, sempre dentro de princípios naturalistas, isto é, não inventamos nada, está tudo no mundo, na própria natureza. Naturalmente que não vou tratar aqui dos protocolos de aprendizagem, mas posso dizer que eles podem ser únicos para cada indivíduo, uma vez que cada indivíduo tem sua própria história que precisa ser compreendida por seu terapeuta comportamental.

Sei que muitas perguntas podem ter surgido e, se surgiram, que bom!!! Mas uma delas pode ser o tempo de duração de uma TC. Bom, isso depende de inúmeros fatores, entre eles: o grau de comprometimento do transtorno, a capacidade do indivíduo em responder à terapia, o número de sessões terapêuticas, o engajamento da família, entre outros. De modo que pode não ser rápida como esperam os pais que, na maioria das vezes, estão numa condição de sofrimento. Por outro lado, podem haver surpresas. A integração dos processos de aprendizagem no indivíduo ocorrem no tempo dele e isso é imprevisível. Contudo, é possível dizer que a AC e a TC têm alcançado muitos avanços no tratamento de muitas problemáticas humanas. Dentre elas, os problemas ligados ao espectro autista. 

Deixo um abraço a todos. Que possamos dialogar. Desculpe o texto grande, mas a AC tem sua amplitude impossível de ser totalmente resumida. Muita força para vocês pais e mães que estão lutando junto aos seus filhos. Que vocês os possam acolher, amar e educar cada vez mais. Logo, logo poderemos estar juntos. Até. 

Publicado no Facebook no grupo "Autismo Jataí-Goiás" 

Autor: Vinícius H. A. Carvalho
Professor e estudante de Psicologia da UFG.

26/10/2012


                    (Após teclar com Vinícius no grupo "Autismo Jataí-Goias" do facebook, pedi a ele que autoriza-se a publicação deste texto. Ele me solicitou que eu publica-se esta nota junto ao texto. E publico a nota sentindo-me muito feliz por ter participado de uma conversa on line que muito acrescentou a minha pessoa enquanto mãe de um autista. Obrigada de coração Vinícius.    Cíntia Leão- mãe de Gustavo Leão , paciente do CPA desde de 2008)
                      
"Fico feliz e agradecido, muito embora eu tenha escrito de uma forma muito pessoal, é quase um bilhete, Cintia Leão Silva, isto é, um bilhete grande hihiiihihihi... Acho que foi um texto didático e muito simples, no qual muitas coisas ficaram de lado. Não o pensei para um blog, mas para um bate-papo corriqueiro. Era para atender dúvidas bem básicas mesmo. Então, se puder, ponha-o, e ponha esta nota que acabei de escrever aqui em baixo ou no topo. Os profissionais e não-leigos, assim, entenderão. Ok? Muito obrigado pelo carinho mesmo. Tudo de bom e sucesso na terapia de sua criança."  Vinícius H. A. Carvalho."

terça-feira, 16 de outubro de 2012



Médicos americanos revisam diagnóstico de autismo


Associação Psiquiátrica quer mais rigor para definição do distúrbio de comportamento

"Mudanças importantes propostas por pesquisadores médicos para a definição de autismo vão reduzir drasticamente o número de pessoas diagnosticadas com o distúrbio e ainda tornar mais difícil classificar pacientes que não satisfazem os critérios para obter os serviços educacionais e sociais previstos como auxiliares no tratamento. A definição médica de autismo está sob revisão por um painel de especialistas nomeados pela Associação Americana de Psiquiatria, que vai concluir os trabalhos para a quinta edição do Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais. O DSM, como o manual é conhecido na sigla em inglês, é referência-padrão para a definição de transtornos mentais, a condução do tratamento, a pesquisa e as decisões sobre seguros de saúde.
Os resultados do estudo ainda são preliminares, mas oferecem a estimativa mais recente de como apertar os critérios para o diagnóstico do autismo, afetando drasticamente a taxa de pacientes com esta classificação. Índices de autismo e desordens mentais relacionadas, como a síndrome de Asperger, têm decolado para as alturas, desde o início de 1980, ao ponto de uma em cada cem crianças receber o diagnóstico. Muitos pesquisadores suspeitam que esses números são inflados por causa da indefinição nos critérios atuais..."

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/medicos-americanos-revisam-diagnostico-de-autismo-3718273#ixzz29WhA7R9d